Números atuais da colheita mecanizada de cana-de-açúcar no estado de SP

11 05 2011

Tendo em vista a Lei Estadual 11242/02 de 19 de setembro de 2002, que consiste na extinção da queima na colheita de cana-de-açúcar até 2021 para áreas mecanizáveis. E também pela busca na otimização do processo produtivo de açúcar e álcool, muitos usineiros implantaram em um curto espaço de tempo a mecanização em suas lavouras de cana.

 

 

Segundo o balanço da Secretaria do Meio Ambiente divulgado em abril (Safra 2010/2011), 70% das usinas e 20% dos fornecedores do estado de São Paulo, já possuem o cultivo da cana-de-açúcar de uma forma mecanizada, representando uma área de 2,62 milhões de hectares ou aproximadamente 56%  da cana plantada em todo o Estado.

Estes números representam para a UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar) e o Governo do Estado de São Paulo, um bom ritmo de modificação do cultivo manual e semi-mecanizado, para o totalmente mecanizado, mostrando que, possivelmente conseguirão cumprir o cronograma do Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro assinado em junho de 2007, o qual se caracteriza por antecipar os prazos de extinção da queima no Estado.

Mas afinal. Qual a importância, além do quesito ambiental, que esses números trazem?

Focando apenas no conceito de máquinas, pode-se observar uma gama de mudanças como por exemplo: o aumento da quantidade de máquinas que necessitaram de ser produzidas para atingir esse mercado; aumento do número de empregos nas grandes montadoras; o aumento da necessidade de mão-de-obra qualificada nas concessionárias, para dar um apoio mais qualificado as produtores; aumento da quantidade de combustível necessário para movimentar essas máquinas; capacitação de funcionários para operar tais máquinas com a maior eficiência possível, dando a eles melhores condições de trabalho e um novo aprendizado; entre outros.

São inúmeros os efeitos decorrentes de uma ação de modificação, como por exemplo, para o processo do fim da queimada do canavial na colheita de cana e a introdução da colheita mecanizada. Logo, deve-se enxergar os impactos em escala real.

Quando tem-se um número tão expressivo como 2,62 milhões de hectares mecanizados, não se pode esquecer das entradas e saídas que estão envolvidas nesse processo. E principalmente, profissionais de pesquisas e de aplicação devem estar atentos para tornar esses processos com o máximo de eficiência e o mínimo de perdas, sejam elas de âmbito ambiental ou tecnológico.  

MELLO (2007) encontrou valores de perdas invisíveis equivalentes à 1,4 g/corte, para facas comuns de disco de corte de base, a uma velocidade tangencial de 22 m/s. Tais facas, são atualmente usadas nas principais colhedoras de cana. Para um exercício prático e no cenário anteriormente citado neste artigo, consideremos que existem em média 30 colmos de cana por metro linear, logo em um hectare ocorrerá uma perda de 250 kg. Transportando esses dados para a área atualmente mecanizada no estado de São Paulo, pode-se estimar uma perda de aproximadamente 660 mil toneladas de cana, o que daria para produzir aproximadamente 53 milhões de litros de etanol.

Os dados acima estimados com base em pesquisas científicas estão considerando apenas as perdas invisíveis, que ocorrem em média no processo atual da colheita de cana-de-açúcar. No entanto, ao considerar as perdas totais, esses valores  tornam-se muito mais expressivos. 

Sendo assim, os números relacionados ao aumento da área mecanizada no cultivo de cana-de-açúcar, estão indicando possíveis aumento na demanda de profissionais que conhecem as máquinas inseridas nesse contexto, tanto no controle operacional, como em seus gargalos, os quais limitam a eficiência de operação, e também reduzem a produtividade de lavouras. Com isso, torna-se indispensável o trabalho de pesquisas relacionadas à mecanização agrícola, bem como de Engenheiros capacitados para implementá-las no campo.

Obrigado!
Julio C. Baratelli

Referências Bibliográficas

MELLO, R.C, Improvements in basecutter design for sugarcane harvesters, Australia, 2007. Doctor of philosophy in Agricultura Engineering.

BARATELLI, J.C, Perdas na colheita mecanizada de cana-de-açúcar, Campinas-SP, 2011. agrimangers.wordpress.com

Sites consultados em 09/05/2011:
www.unica.com.br

tecnologo-fernandoaoki.blogspot.com/2010/10/colheita-mecanizada.html 





Terraceamento: estrutura de proteção contra erosões do solo

2 04 2011

Proteção contra erosões: um complemento necessário para a sistematização da área de produção.

A erosão hídrica dos solos brasileiros tem atingido índices alarmantes. Levantamentos realizados indicam que o Estado de São Paulo perde a cada ano 194 milhões de toneladas de terras férteis, o que representa, em termos de nutrientes, o equivalente a um prejuízo da ordem de 200 milhões de dólares. Em termos de água, perde-se por ano, em forma de enxurrada, um volume de 10 bilhões de metros cúbicos, quantidade esta suficiente para o abastecimento de 100 milhões de habitantes em um ano. Além dessas perdas, que colaboram para a queda de produtividade nas áreas de cultivo, a erosão tem gerado outros danos diretos ao meio ambiente, tais como a poluição e o assoreamento dos cursos de água, de represas e de açudes.

Para um aumento de eficiência no controle dos processos erosivos têm se utilizado várias tecnologias que visam aumentar a cobertura vegetal do solo e a infiltração de água no seu corpo. Nos casos onde a combinação dessas tecnologias é insuficiente costumam-se utilizar práticas mecânicas, em que se recorre a estruturas artificiais, mediante a disposição de diques de terra no sentido transversal das vertentes, visando à quebra da velocidade de escoamento da enxurrada e o conseqüente aumento de infiltração ou condução das águas excedentes das chuvas no solo.

Dentre as práticas de caráter mecânico, o terraceamento tem sido indicado como um dos sistemas mais eficientes na diminuição de perdas de água e solo em áreas cultivadas. Entretanto, para o êxito nesse mister, o planejamento de um sistema de terraços deve levar em conta o correto dimensionamento dos espaços entre os mesmos e de suas seções transversais, sem o que, essa prática poderá tornar-se um fator agravante dos processos erosivos. O preparo conduzido de forma racional pode permitir alta produtividade das culturas; irracionalmente utilizado pode levar um solo à sua destruição completa, em apenas alguns anos de cultivo intensivo.

O Serviço de Conservação de Solos dos Estados Unidos define terraço como um dique e um canal, ou uma combinação de diques e canais, construídos transversalmente ao sentido de uma rampa (vertente), com o intuito de diminuir a velocidade da enxurrada e a conseqüente desagregação e arraste das partículas. Atualmente existem algumas classificações quanto à função, o tipo de construção e as dimensões dos terraços agrícolas. Os terraços, quanto à sua função, podem ser de dois tipos:

§  terraço de armazenamento, o canal do terraço é em nível e toda a água coleta da enxurrada é infiltrada. Para isso  constroem-se os terraços com suas extremidades fechadas. Esse tipo de terraço aplica-se em solos com boa permeabilidade, profundos e com baixo gradiente textural em seu perfil.

§  Terraço de drenagem: com gradiente no canal, onde a água que excede à infiltração natural dos solos deve ser disciplinadamente conduzida aos canais escoadouros naturais ou artificiais, localizados nas extremidades dos canais.

Quanto à forma de construção dos terraços para a formação do canal e do camalhão devem se levar em consideração as máquinas e implementos disponíveis. A movimentação de terra pode ser feita de duas maneiras, dando origem a dois tipos básicos de terraços:

§  Nichols: construído cortando-se a terra e movimentando sempre de cima para baixo; portanto a terra que forma o camalhão é retirada da faixa imediatamente superior, resultando nela o canal, tendo em vista que o camalhão é formado através de tombamentos sucessivos sempre para baixo.

§  Mangum: construído “tombando” de cima para baixo e de baixo para cima,  ora num sentido ora no outro, alternadamente.

Quanto à largura da faixa de movimentação de terra (dimensão), os terraços podem ser classificados em :

§  Base estreita: também conhecido como cordões em contorno, de uso restrito a pequenas lavouras, em terrenos inclinados.

§  Base média: de 3 a 6 m de largura, podendo ser cultivados na maior parte de sua extensão.

§  Base larga: de 6 a 12 m de largura, considerados os verdadeiros terraços, sendo recomendados para lavouras extensas, com declives de até 8%

Para o correto dimensionamento de terraços deve-se levar em consideração a declividade média da área, comprimento da vertente, cultura a ser estabelecida, cobertura vegetal, volume esperado de água, entre outros. aspectos importantes para a eficiencia de todo sistema. Sem duvidas fica evidente a importancia de um adequado projeto de conservação de solo utilizando estruras de contenção como o terracemaneto, para uma adequada sistematização de operações mecanizadas na área. Nos próximos artigos serão abordados assuntos referentes as máquinas, equipamentos e implementos necessários para a implementação de terraços agrícolas.

 

 





Uso de Ferramenta de Gestão na Análise Operacional da Mecanização Agrícola

20 03 2011

A mecanização agrícola vem avançando nas últimas décadas para trazer maiores benefícios  para aqueles que decidiram investir na agricultura, independente de pequenos, médios ou grandes produtores.

As máquinas, implementos e equipamentos agrícolas, que são lançadas anualmente em feiras e exposições relacionadas à agricultura,  estão trazendo melhorias e novas soluções para o campo. O uso da mecanização pode aumentar a qualidade operacional de várias atividades que compõe o sistema de produção como: preparo do solo, plantio, aplicação de adubo e defensivo agrícola, colheita, beneficiamento e armazenamento. Espera-se que esta qualidade operacional reflita de forma positiva na produtividade final e que os custos de produção gerem lucros. Para tanto se faz necessário a realização do gerenciamento dos sistemas mecanizados da propriedade, uma tarefa complexa, ao qual a análise operacional da mecanização agrícola é uma das ferramenta gerenciais que, se analisadas e planejadas de maneira correta, pode auxiliar na tomada de decisões dos aspectos técnicos, de tempo e  de custos operacionais.

Para iniciar essa análise gerencial deve-se realizar a caracterização das operações agrícolas, através do mapeamento de processos “5W2H”, que são as perguntas chaves para o levantamento das informações que irão dar suporte para a análise operacional. A sigla 5W2H vem do inglês: What? (O que?/Qual?), When? (Quando?), Where? (Onde?), Why?(Por quê?), Who? (Quem?), How? (Como?) e How Much ? (Quanto custa?).  Esse levantamento deve ser feito por pessoas com conhecimento técnico da área de mecanização agrícola, pois esta análise irá influenciar diretamente em fatores como: rendimento operacional, adequação trator-implemento, dimensionamento da frota agrícola, custos de produção e capacitação operacional, além de ser fatores incisivos na qualidade de todo o sistema de produção.

No estudo de rendimento operacional é feita uma avaliação quantitativa e qualitativa do desempenho das máquinas agrícolas, identificando os parâmetros, formas de controle e os custos das operações envolvidas. Fatores como o tempo de campo, que envolve o tempo operacional (em que o conjunto mecanizado está trabalhando) e tempos perdidos (em manobras, obstruções no campo, abastecimento, manutenção) irão influenciar na eficiência de campo.

A adequação trator-implemento visa relacionar o conjunto mecanizado correto para cada tipo de atividade num determinado ambiente que será realizada a operação. Através dessa adequação espera-se obter o máximo rendimento útil das máquinas, maior eficiência e qualidade operacional com menores custos de produção.

O dimensionamento da frota agrícola esta relacionado com o sistema mecanizado que a propriedade necessita para suprir as necessidades do sistema de produção como implantação, condução e retirada da cultura instalada. Nesta etapa, há a influência dos fatores externos (condições edafo-climáticas) e internos (tamanho da propriedade, tipo de cultura, tipo de manejo, ritmo operacional).

Os custos de produção estão ligados ao tipo de atividade realizada que envolve a utilização de: máquinas (manutenção, combustível, depreciação, seguro, alojamento, mão-de-obra) e o insumo envolvido (sementes, adubos, defensivos), entre outros. Através desses fatores pode-se observar a importância da qualidade do gerenciamento sobre as atividade agrícolas na redução dos custos de produção.

Finalizando, a capacitação operacional possui grande importância em todo o sistema de produção, visto que possuir máquinas, implementos e equipamentos com controle de manutenção, combustível e lubrificantes disponíveis para consumo, mais insumos para serem aplicados no campo, se não houver uma equipe técnica e operacional que não esteja preparada para realizar as atividades agrícolas.  Realizar operações incorretas podem acarretar maiores custos com manutenção, redução da qualidade do sistema produtivo, menor eficiência operacional, entre outros fatores que poderão reduzir os lucros ou serem a chave do fracasso da lavoura.

O uso de ferramentas de gestão na análise operacional da mecanização agrícola visa auxiliar os empresários e produtores rurais a reduzirem os riscos de fracasso da lavoura, aumentarem a qualidade do produto final, dos conjuntos mecanizados e do lucro. Deve haver uma sustentabilidade das operações, ou seja, realizar as atividades de uma forma que proteja o meio ambiente e os recursos humanos envolvidos, e que o sistema de produção seja viável econômicamente.

Mateus T. Zerbinati