Tendo em vista a Lei Estadual 11242/02 de 19 de setembro de 2002, que consiste na extinção da queima na colheita de cana-de-açúcar até 2021 para áreas mecanizáveis. E também pela busca na otimização do processo produtivo de açúcar e álcool, muitos usineiros implantaram em um curto espaço de tempo a mecanização em suas lavouras de cana.
Segundo o balanço da Secretaria do Meio Ambiente divulgado em abril (Safra 2010/2011), 70% das usinas e 20% dos fornecedores do estado de São Paulo, já possuem o cultivo da cana-de-açúcar de uma forma mecanizada, representando uma área de 2,62 milhões de hectares ou aproximadamente 56% da cana plantada em todo o Estado.
Estes números representam para a UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar) e o Governo do Estado de São Paulo, um bom ritmo de modificação do cultivo manual e semi-mecanizado, para o totalmente mecanizado, mostrando que, possivelmente conseguirão cumprir o cronograma do Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro assinado em junho de 2007, o qual se caracteriza por antecipar os prazos de extinção da queima no Estado.
Mas afinal. Qual a importância, além do quesito ambiental, que esses números trazem?
Focando apenas no conceito de máquinas, pode-se observar uma gama de mudanças como por exemplo: o aumento da quantidade de máquinas que necessitaram de ser produzidas para atingir esse mercado; aumento do número de empregos nas grandes montadoras; o aumento da necessidade de mão-de-obra qualificada nas concessionárias, para dar um apoio mais qualificado as produtores; aumento da quantidade de combustível necessário para movimentar essas máquinas; capacitação de funcionários para operar tais máquinas com a maior eficiência possível, dando a eles melhores condições de trabalho e um novo aprendizado; entre outros.
São inúmeros os efeitos decorrentes de uma ação de modificação, como por exemplo, para o processo do fim da queimada do canavial na colheita de cana e a introdução da colheita mecanizada. Logo, deve-se enxergar os impactos em escala real.
Quando tem-se um número tão expressivo como 2,62 milhões de hectares mecanizados, não se pode esquecer das entradas e saídas que estão envolvidas nesse processo. E principalmente, profissionais de pesquisas e de aplicação devem estar atentos para tornar esses processos com o máximo de eficiência e o mínimo de perdas, sejam elas de âmbito ambiental ou tecnológico.
MELLO (2007) encontrou valores de perdas invisíveis equivalentes à 1,4 g/corte, para facas comuns de disco de corte de base, a uma velocidade tangencial de 22 m/s. Tais facas, são atualmente usadas nas principais colhedoras de cana. Para um exercício prático e no cenário anteriormente citado neste artigo, consideremos que existem em média 30 colmos de cana por metro linear, logo em um hectare ocorrerá uma perda de 250 kg. Transportando esses dados para a área atualmente mecanizada no estado de São Paulo, pode-se estimar uma perda de aproximadamente 660 mil toneladas de cana, o que daria para produzir aproximadamente 53 milhões de litros de etanol.
Os dados acima estimados com base em pesquisas científicas estão considerando apenas as perdas invisíveis, que ocorrem em média no processo atual da colheita de cana-de-açúcar. No entanto, ao considerar as perdas totais, esses valores tornam-se muito mais expressivos.
Sendo assim, os números relacionados ao aumento da área mecanizada no cultivo de cana-de-açúcar, estão indicando possíveis aumento na demanda de profissionais que conhecem as máquinas inseridas nesse contexto, tanto no controle operacional, como em seus gargalos, os quais limitam a eficiência de operação, e também reduzem a produtividade de lavouras. Com isso, torna-se indispensável o trabalho de pesquisas relacionadas à mecanização agrícola, bem como de Engenheiros capacitados para implementá-las no campo.
Obrigado!
Julio C. Baratelli
Referências Bibliográficas
MELLO, R.C, Improvements in basecutter design for sugarcane harvesters, Australia, 2007. Doctor of philosophy in Agricultura Engineering.
BARATELLI, J.C, Perdas na colheita mecanizada de cana-de-açúcar, Campinas-SP, 2011. agrimangers.wordpress.com
Sites consultados em 09/05/2011:
www.unica.com.br
tecnologo-fernandoaoki.blogspot.com/2010/10/colheita-mecanizada.html